VUCA: ORIGENS E REFLEXÕES

VUCA: ORIGENS E REFLEXÕES

24 de setembro de 2021 - Por Rodrigo Tetti Garcia

Nas últimas décadas a terminologia “VUCA”, acrônimo na língua inglesa de Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade, tem sido comumente utilizada para descrever a atmosfera que as empresas estão inseridas e se relacionam.

Existem controvérsias relacionadas ao seu surgimento, porém é consenso que surgiu na década de 80 e foi incorporado às academias militares dos Estados Unidos, uma vez que este período culminou com o final da “Guerra Fria”, ocorrendo a migração de uma dualidade EUA e URSS para um mundo multifacetado.

Tanto nas academias militares como no mundo dos negócios, o conceito “VUCA” contextualiza de forma eficiente a realidade atual.

Outro ponto refere-se à temporalidade, apesar deste conceito ter surgido na década de 80, a influência destas variáveis já vinha acontecendo no mundo, principalmente com o fim do determinismo logo após a 2ª Guerra, onde deixa-se de ter uma relação causa-efeito para uma relação com múltiplas causas e múltiplos efeitos, consequência das revoluções científicas e surgimento do movimento pós-moderno.

Porém é no fim do século XX e início do XXI, com a Globalização, crescimento exponencial da internet e redes sociais, impactando de forma significativa mercado financeiro, meios de comunicação e hábitos de consumo, que o “VUCA” ganha enorme força, auxiliando as organizações no entendimento do contexto para embasar as decisões de negócio.

Para o entendimento do conceito “VUCA” é imperativo a definição de cada variável, começando pela mãe de todas que é a “Complexidade”. Segundo MORIN (1999), “Vivemos numa realidade multidimensional, simultaneamente econômica, psicológica, mitológica, sociológica, mas estudamos estas dimensões separadamente, e não umas em relação com as outras. O princípio de separação torna-nos talvez mais lúcidos sobre uma pequena parte separada do seu contexto, mas nos torna cegos ou míopes sobre a relação entre a parte e o seu contexto”.

O impacto da especialização e ausência do pensamento sistêmico é que se torna cada vez mais improvável a acurácia das previsões, mesmo a curto prazo. “Complexus” significa originariamente o que se tece junto. O pensamento complexo, portanto, busca distinguir (mas não separar) e ligar.

Se a “Complexidade” é a mãe das variáveis VUCA, a “Volatilidade” é o filho primogênito e está associada à incerteza, imprevisibilidade e risco.

Já trazendo para a esfera corporativa, segundo JUBERT e “Et Al” (2008), a volatilidade de ativos representa as alterações ocorridas nos seus preços em razão de diversos fatores relacionados ao desempenho destes e da conjuntura econômica.

Fatores relativos ao desempenho dos ativos são as boas e más notícias sobre o seu aspecto organizacional, administrativo ou econômico-financeiro, que podem ser mais especificamente a concorrência interna e externa, surgimento de produtos substitutos, custos e oferta de insumos, regulamentação ambiental, mudanças na tributação e gestão da companhia, entre outros.

A volatilidade de ativos foi bastante potencializada com a globalização do mercado financeiro e o desenvolvimento da tecnologia da informação, principalmente no que tange à velocidade e conectividade. Não é incomum, por exemplo, uma desvalorização da moeda turca afetar ativos no Brasil.

Somados aos fatores determinísticos citados acima, podemos considerar ainda as expectativas e especulações dos investidores, que contribuem significativamente para o aumento da volatilidade de mercado, não importando muito com a direção “altista” ou “baixista”, o que importa é o movimento e o número de transações, comprando-se na baixa e vendendo-se na alta do preço.

Adiciona-se ainda ao enredo da “Volatilidade” o que TALEB (2012) chamou de “Cisnes Negros”, que são eventos significativos, inesperados e com grandes consequências, que muitas vezes, mudam nosso mundo: 1ª e 2ª Guerras Mundiais, 9/11, Internet etc.

Entende-se por “Ambiguidade”, no contexto desta pesquisa, a ausência de uma única resposta certa para determinado problema face ao elevado número de variáveis e suas interdependências que compõem a situação, fruto da “mater” complexidade.

Nem sempre temos clareza das causas e até mesmo do significado, o que impossibilita uma visão maniqueísta dos eventos, o que importa passa a ser a efetividade da decisão, naquele momento, para determinada situação.

A última variável “VUCA” que tratamos é a “Incerteza” (Uncertainty) é quase que uma consequência das outras três, motivo pelo qual foi deixada por último.

A instabilidade causada pela volatilidade dos ativos e mercados, pela ambiguidade dos problemas e complexidade das situações devido à interdependência das dimensões, conectividade ente pessoas, processos, mercados, plataformas etc., fragiliza e torna efêmero qualquer tipo de previsão ou planejamento.

A denominação “VUCA” pode não ser uma unanimidade no mundo acadêmico, podendo surgir outras denominações, classificações e simplificações, como por exemplo, todo este contexto resume-se em “Complexidade” ou “Incerteza”. Entretanto torna-se difícil discordar do conteúdo apresentado acima, independente da terminologia, pois ilustra elementos presentes na realidade das empresas que impactam no destino delas.

Ficar passivo ou tomar decisões atrasadas diante da constante mudança de premissas de negócios derivadas do contexto acima, tem levado cada vez mais empresas a um Estado de Crise e, no limite, à sucumbência.