A enterprise

A enterprise

16 de junho de 2021

   Quando era um garoto via com muito interesse as aventuras da nave Enterprise, do Cap. Kirk, e de seus companheiros. Vi um pequeno aparelho, nas mãos dos tripulantes que, além de ser um comunicador, tinha a capacidade de teletransporte.

Me parecia fantástico poder estar a quilômetros de distância em segundos, superar todas as dificuldades para se encontrar em lugares diferentes, com pessoas diferentes, sem gastar mais do que um segundo para isto.

O tempo passou, a tecnologia acabou inventando um aparelhinho muito parecido com o do Cap. Kirk. Os primeiros tinham até o “flip” como o original, mas até isso ficou superado e foi melhorado.

Finalmente a mudança de hábitos que vem comas grandes crises, como guerras e pandemias, por exemplo, aliada à tecnologia que já dominávamos, fez com que o teletransporte se tornasse realidade. Não precisamos mais transportar nossas moléculas, transportamos nossa presença. Não precisamos mais aprender idiomas, cada um fala sua língua e o outro ouve na dele. É o essencial. Podemos estar a quilômetros em questão de segundos. Falar com pessoas ao redor do mundo sem qualquer dificuldade. Estamos utilizando essas ferramentas que tornam nossa vida mais simples, mais produtiva e muito mais eficiente. Era somente uma questão de hábito.

Ainda precisamos nos habituar completamente, mas não mais ser necessário o transporte, tem o potencial de mudar nossas vidas. Nada mais de viagens de negócios, nada mais de reuniões presenciais, nada mais de escritórios físicos, menos automóveis, menos trânsito, menos poluição, menos consumo de petróleo.

A possiblidade de morar melhor fora dos grandes centros, mais próximos à natureza, um maior convívio com a família. Tudo isso é fascinante e tentador. Muita coisa vai mudar....

Seguramente essas afirmações não são absolutas: teremos encontros presenciais, cocktails, conversações frente a frente, encontros profissionais, mas nunca mais no volume e quantidade que tínhamos no passado.

Por um lado, isto preocupa. O homem, por definição, é um animal gregário. Desde que nos levantamos sobre as patas traseiras, ou até antes, buscamos a convivência e vivemos em grupo. Estaríamos indo contra milhões de anos de hábitos e costumes?

Não temos resposta para isto. Ainda é muito cedo. Não sabemos como iremos nos comportar. O que inspira cuidados, porém, é que não podemos, nem devemos nos acomodar às facilidades do tele transporte e abandonar o convívio humano.

Como na revolução provocada pelo automóvel, que nos permitiu um deslocamento por distancias que nunca havíamos sonhado, mas nos dispensou de fazer exercícios que mantém nosso corpo ativo, esta revolução, muito mais profunda, pode, em vez de nos aproximar, nos isolar, cada um em seu próprio casulo.

Resta ver o que o Cap. Kirk vai pensar de nossa evolução. Resta ver o que nós faremos com essa evolução.